Ensaio para quem precisa

“O ensaio é o último outsider dos gêneros. Se hoje ele está de volta, deve ser porque, em nossa era sobrecarregada de informação, exista entre os leitores uma avidez pela voz individual”, escreveu Lucasta Miller no Guardian para marcar a estreia de sua Notting Hill Editions, uma editora  pequena e caprichada que, a exemplo da serrote, dedica-se exclusivamente à boa prosa de não-ficção.

Obviamente sediada em Londres, a Notting Hill começou a publicar em maio último e tem em seu catálogo oito títulos. Se, como quer Lucasta, o ensaio é um oásis de personalização na algaravia da web, uma editora nestes moldes é igualmente um bem vindo refúgio numa época edições massivas e produção acelerada em que o volume não é nem poderia ser compatível com a qualidade.

Nesta primeira fornada, a Notting Hill publica John Berger, Richard Senett, Roland Barthes, Georges Perec e, menos conhecidos no Brasil, Lavinia Greenlaw, Jonathan Keates e Christopher Ricks, além do clássico Samuel Rogers (1763-1855). Os livrinhos impressos na Alemanha, em formato quase de bolso e capa dura forrada de pano, são lindos. Com o frete internacional, chegam em casa por  razoáveis 14 libras, menos de R$ 40.

The foreigner, de Richard Sennett, é uma maravilha,  e Cataract, de John Berger, traz ilustrações belíssimas de Selçuk Demirel num ensaio pessoal notável sobre  a perda de visão de um dos críticos de arte mais influentes das últimas décadas. Mas tão bom quanto os livros é o projeto editorial da Notting Hill.

Tornando-se membro (gratuitamente e sem precisar comprar nada) você tem acesso a uma revista virtual que publica ensaios inéditos e, também, à ótima biblioteca de ensaísmo. Com um mecanismo de busca que localiza textos por temática, autor, título, época e gênero, a seleção de títulos sempre atualizada mistura referências incontornáveis a sugestões nada ortodoxas. Acompanhando um pequeno resumo do texto e do autor, um link para que, sempre que possível, se possa ler diretamente o texto on line.

A Notting Hill promete, em breve, vender ebooks – o que vai facilitar muito a vida, é claro. Mas se a idéia é remar contra a maré, até que tem graça o tempo entre o pedido, a espera pelo livro e a alegria de recebê-los em seu charme retrô. Talvez uma forma adequada para o mais outsider dos gêneros.

 

* Na imagem da home que ilustra este post: Michel de Montaigne, sentado na Place Paul Painlevé, em Paris.

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