Discurso sobre a felicidade

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Discurso sobre a felicidade

Madame du Châtelet

 

É crença generalizada, e motivos não faltam para isso, que ser feliz é difícil. Contudo, se as reflexões e o plano de conduta pre­cedessem as ações humanas, seria mais fácil sê-lo. Arrastados pelas circunstâncias, aferramo-nos a esperanças que nunca proporcionam senão metade do que esperamos delas: por fim, só percebemos com clareza os caminhos da felicidade quando a idade e os entraves decorrentes dela criam obstáculos.

Antecipemos essas reflexões feitas tardiamente: os que as lerem encontrarão nelas aquilo que a idade e as circuns­tâncias de suas vidas só muito lentamente lhes forneceriam. Evitemos que se perca parte do precioso e curto tempo que temos para sentir e pensar e que se fique calafetando o navio no tempo que eles [deveriam empregar para obter os prazeres de que] poderiam desfrutar da navegação.

Para ser feliz, é preciso despir-se dos preconceitos, ser vir­tuoso, comportar-se bem, ter impulsos e paixões e ser sus­cetível à ilusão, uma vez que devemos a ela a maior parte de nossos prazeres, e ai daquele que a perde. Portanto, longe de procurar extingui-la com o archote da razão, procuremos engrossar o verniz que ela aplica sobre a maioria dos objetos, ainda mais necessário para nossos corpos do que os cuidados e adornos.

O primeiro passo consiste em nos dizer e nos convencer efetivamente de que nada temos a fazer neste mundo senão cultivar sensações e sentimentos agradáveis. Os moralistas que declaram aos homens “se quiserem ser felizes, reprimam suas paixões e controlem seus desejos” não conhecem o cami­nho da felicidade. Só somos felizes em decorrência de afetos e paixões saciadas; [digo afetos] porque nem sempre somos felizes o bastante para cultivar paixões, e, na ausência delas, resta nos contentar com os afetos. Logo, se ousássemos pedir alguma coisa a Deus, paixões é o que deveríamos pedir; aliás, Le Nôtre1 tinha toda a razão ao solicitar ao papa tentações em lugar de indulgências.

Porém, alguém dirá, paixões não geram só felicidade, mas também infelicidade. Não tenho a balança exigida para pesar em valores absolutos o bem e o mal que elas causam aos homens; mas vale ressaltar, contudo, que os infelizes são conhecidos por necessitar dos outros, comprazer-se em contar seus infortúnios e procurar remédios e alívio. As pessoas feli­zes não procuram nada, assim como não alardeiam sua felici­dade; os infelizes são interessantes, os felizes, desconhecidos.

Eis por que quando dois amantes se acomodam, quando o ciúme termina e os obstáculos que os separavam são superados, eles não servem mais para o teatro. A peça terminou para os espectadores. A cena de Renaud e Armide,2 por exemplo, não despertaria o mesmo interesse se o espectador não suspeitasse que o amor de Renaud fosse efeito de um encantamento que deveria se dissipar, e que a paixão revelada por Armide nessa cena tornaria seu infortúnio mais interessante. São idênticas as molas propulsoras que atuam sobre nossa alma para emocioná-la tanto nas representações teatrais como nos aconteci­mentos da vida. Portanto, conhecemos o amor muito mais pelos infortúnios que produz do que pela felicidade, fre­quentemente obscura, que espalha sobre a vida dos homens. Entretanto, mesmo supondo por um momento que as pai­xões tragam mais infortúnio que felicidade, afirmo que elas ainda seriam desejáveis, pois são a condição para que se des­frute dos grandes prazeres. Ora, só vale a pena viver se for para ter sensações e sentimentos agradáveis, e, quanto mais intensos forem esses sentimentos agradáveis, mais felizes seremos. Logo, é desejável ser suscetível às paixões, e repito mais uma vez: não as tem quem quer.

É nosso dever colocá-las a serviço da felicidade, o que geral­mente depende de nós. Aquele que é capaz de administrar sua posição e as circunstâncias em que a fortuna o lançou, de man­ter o espírito e o coração tranquilos, de ser suscetível a todos os sentimentos e sensações agradáveis que tal posição pode comportar, é seguramente um excelente filósofo e deve de fato agradecer à natureza.

Refiro-me à sua posição e às circunstâncias em que a for­tuna o lançou por acreditar que uma das coisas que mais con­tribuem para a felicidade é contentar-se com a própria condi­ção e, em vez de pensar em alterá-la, torná-la feliz.

Meu objetivo não é escrever para todo tipo de classe nem todo tipo de pessoa: nem todas as classes são suscetíveis à mesma espécie de felicidade. Escrevo apenas para o que cha­mamos Bens du monde, isto é, os que nasceram com fortuna já feita, mais ou menos brilhante, mais ou menos opulenta, enfim, os que podem conservar seu status sem corar por isso, os que decerto não são os mais fáceis de fazer felizes.

Ora, para cultivar paixões e ser capaz de satisfazê-las, cum­pre em primeiro lugar ter saúde. É o primeiro bem, e esse bem não independe tanto de nós quanto pensamos. Como todos nascemos saudáveis (digo em geral) e feitos para durar certo tempo, não resta dúvida de que, se não estragássemos nossa constituição por meio da gula, de noites insones, enfim, de excessos, viveríamos até a velhice. Abro exceção para as mortes violentas, imprevisíveis, com as quais, por conseguinte, é inú­til nos ocupar.

Ora, alguém retrucará, se a sua paixão for a boa mesa, então você será infe­licíssimo, pois, se quiser ser saudável, terá de reprimir-se perpetuamente. Respondo que, se a felicidade for o objetivo, ao saciar suas paixões, nada deve afastá-lo dela. Se o mal-estar estomacal ou a gota, provocados pelos excessos cometidos à mesa, causam-lhe dores mais intensas que o prazer de satisfazer sua gula, você erra no cálculo ao preferir o gozo à privação. Assim, afasta-se de seu objetivo e sente-se infeliz e culpado. Não se censure por sua gulodice, essa paixão é fonte de contínuos prazeres, mas saiba colocá-la a serviço de sua felici­dade. Para isso, nada mais fácil, basta ficar em casa e pedir que lhe sirvam estri­tamente o que lhe apetece comer. Faça dietas periódicas: se você aguardar que o estômago deseje com uma fome genuína, qualquer coisa que lhe oferecerem lhe proporcionará o mesmo prazer que as mais finas iguarias, nas quais não pensará enquanto não as tiver diante dos olhos. Essa sobriedade compulsória intensifi­cará o prazer. Não a recomendo para suprimir seu apetite, mas para prepará-lo para um gozo mais delicioso. Quanto às pessoas enfermas e senis, a quem tudo causa incômodo, elas cultivam outras espécies de felicidade. Estar bem aqueci­das, digerir bem o frango, fazer o intestino funcionar é um deleite para elas. Tal felicidade, se assim podemos chamá-la, é muito insípida para que nos preocu­pemos com os meios de alcançá-la. Esse tipo de gente parece viver numa esfera da qual o que denominamos felicidade, gozo, sentimentos agradáveis não pode se aproximar. Embora dignas de pena, nada podemos fazer por elas.

Após nos persuadir de que, sem saúde, é impossível desfrutar de qualquer prazer ou bem, passaremos a aceitar, sem reclamar, fazer determinados sacri­fícios para conservar a nossa. Posso dizer que sou um exemplo disso. A des­peito de possuir excelente constituição, não sou forte, e há coisas que certa­mente estragariam minha saúde. Assim, desde a adolescência, evito o vinho e todo tipo de licor e, com um temperamento de fogo, passo a manhã inteira afogando-me em líquidos. Resumindo, com certa frequência cedo à gula de que Deus me dotou, compensando tal excesso com dietas rigorosas que me imponho ao primeiro incômodo e que sempre me evitaram doenças. Tais die­tas nada me custam, pois nesses momentos estou sempre em casa à hora das refeições e, como a natureza é bastante sábia para não nos dar sensação de fome quando a sobrecarregamos de comida, e não sendo então meu apetite atiçado pela presença de iguarias, nada me nego ao deixar de comer, reco­brando a saúde sem passar por privação.

Outra fonte de felicidade é não ter preconceitos, e desfazer-se deles só depende de nós. Afinal, somos dotados de inteligência suficiente para examinar aquilo em que nos obrigam a acreditar, como, por exemplo, se dois e dois são quatro ou cinco; neste século, por sinal, o que não falta é recurso para instruir-se. Sei que há outros precon­ceitos que não os da religião  embora nenhum que influencie tanto nossa felicidade e nosso infortúnio , e julgo-os simples­mente detestáveis. Quem expressa um preconceito expressa uma opinião assimilada sem exame, uma vez que ela não se sustentaria. O erro nunca pode ser um bem, e certamente é um grande mal em assuntos de que depende a condução da vida.

Não devemos confundir preconceito com decoro. Um preconceito não encerra nenhum tipo de verdade, sendo útil somente para almas malformadas — pois, assim como corpos disformes, há almas corrompidas. Estas se acham fora da curva, e nada tenho a lhes dizer. O decoro encerra uma verdade con­vencional, o que é suficiente para toda pessoa de bem nunca se permitir infringi-lo. Embora não exista um código de decoro, ninguém de boa-fé o ignora. Ele varia de acordo com as classes, a faixa etária e as circunstâncias. Qualquer um que almeje a felicidade nunca deve afastar-se dele. O respeito rigoroso ao decoro é uma virtude, e afirmo que, para ser feliz, é preciso ser virtuoso. Sei que os pregadores, incluindo Juvenal,3 dizem que é preciso amar a virtude por si só, por sua beleza intrínseca. Contudo, meditando sobre o sentido de tais palavras, vemos que se reduzem a isto: é aconselhável ser virtuoso porque é impossível levar uma vida viciosa e ser feliz. Entendo por vir­tude tudo o que contribui para a felicidade da sociedade e, por conseguinte, para a nossa, uma vez que dela somos membros.

Afirmo que é impossível ser feliz e levar uma vida desregrada, e a demonstração desse axioma jaz no fundo do coração de todos os homens. Sustento, mesmo diante dos mais cruéis, que não há ninguém a quem as recriminações de suas consciências isto é, de seu sentimento íntimo  e o desprezo que no fundo se julga merecer — e do qual de fato se desfruta — não constituiriam suplício. Não considero cruéis os ladrões, assassinos e envene­nadores, os quais não se incluem na classe daqueles para quem escrevo, mas dou esse nome, isto sim, às pessoas falsas e pér­fidas, aos caluniadores, delatores e ingratos, enfim, a todos os acometidos por vícios que as leis não punem, mas para os quais as leis dos costumes e da sociedade promulgam sentenças que, por serem sempre executadas, são ainda mais terríveis.

Sustento, portanto, que não há ninguém na terra capaz de se sentir desprezado sem se desesperar. Esse desprezo público, essa hostilidade das pessoas de bem, é um suplício mais cruel do que todos os que um juiz poderia infligir, pois, além de mais duradouro, nunca é acompanhado pela esperança.

Para não ser infeliz, portanto, cumpre não se entregar ao vício. Para nós, contudo, não ser infeliz é insuficiente, e a vida não valeria a pena ser vivida se a ausência de dor fosse nosso único objetivo: o nada seria melhor, pois este é seguramente o estado em que menos sofremos. Logo, é preferível buscar a felicidade. Sentir-se bem consigo mesmo é como estar ins­talado confortavelmente em sua casa, e em vão tentaríamos usufruir desse prazer sem a virtude:

Aisément des mortels on éblouit les yeux;

Mais on ne peut tromper l’oeil vigilant des dieux,4

disse um de nossos melhores poetas; mas é o olho vigilante de nossa própria consciência que nunca se deixa enganar.

Se formos justos a nosso respeito, quanto mais demons­trarmos ter cumprido nossos deveres e ter feito todo o bem que estava a nosso alcance, enfim, quanto mais virtuosos tivermos sido, mais saborearemos a satisfação íntima que poderíamos chamar de saúde da alma. Duvido que haja sen­timento mais delicioso que o experimentado após uma ação virtuosa e merecedora da estima das pessoas honestas. Ao prazer íntimo gerado pelas ações virtuosas, junta-se então o prazer de gozar da estima universal, pois, embora nem os velhacos possam negar sua estima à probidade, a estima das pessoas honestas é a única que merece consideração. Por fim, afirmo que para ser feliz é preciso ser suscetível à ilusão, o que prescinde de provas. Ora, dirão vocês, mas a senhora asseve­rou que o erro é sempre danoso: a ilusão não é um erro? Não. Na verdade, a ilusão não nos faz ver os objetos exatamente como devem ser para nos proporcionar sensações agradáveis; ela os adequa à nossa natureza. Por exemplo, as ilusões de óptica: ora, a óptica não nos engana, embora não nos faça ver os objetos tais como são, mas, sim, conforme necessitamos vê-los para nossa utilidade. Por qual motivo desato a rir com as marionetes senão o fato de, mais que os outros, prestar-me à ilusão e, no fim de 15 minutos, achar que é o Polichinelo quem fala? Teríamos algum momento de prazer na comé­dia se não nos entregássemos à ilusão, que nos faz ver per­sonagens que sabemos mortos há séculos falando em versos alexandrinos? Ora, que prazer teríamos num espetáculo em que tudo é ilusão se a ela não soubéssemos nos entregar? Seguramente haveria muito a per­der, e aqueles que na ópera desfrutam exclusivamente do prazer da música e das danças desfrutam de um prazer bastante descarnado e aquém daquele proporcionado pelo conjunto desse espetáculo encantador. Citei os espetácu­los, pois neles a ilusão é mais perceptível. Ela se mistura a todos os prazeres da vida, e é seu verniz. Diremos talvez que ela não depende de nós, e, até certo ponto, isso é a pura verdade. Afinal, não podemos nos impor ilusões, assim como não podemos nos impor gostos nem paixões. Podemos, por outro lado, cultivar as ilusões que temos; não tentar destruí-las; não ir às coxias ver as rodas que simulam os voos e outras máquinas: eis toda a arte que podemos empenhar nisso, uma arte que não é inútil nem infrutífera.

São essas as grandes engrenagens da felicidade, se assim posso me expri­mir; contudo, há outras pequenas recomendações que podem contribuir para nossa felicidade.

A primeira delas é estar bem decidido quanto ao que se quer ser e fazer, e é isso que falta a quase todos os homens; no entanto, é a condição sem a qual não existe felicidade. Sem ela, nadamos perpetuamente num mar de incertezas; destruímos de manhã o que realizamos à noite; passamos a vida a cometer tolices, a consertá-las, a nos culpar.

Essa sensação de culpa é uma das mais inúteis e desagradáveis que a alma pode sentir. Saber evitá-la é um grande segredo. Como nada se repete na vida, além de ser inútil simplesmente constatarmos os próprios erros, também o é ficarmos ruminando, recriminando-nos por eles, o que só tem como resul­tado cobrir-nos de vergonha de nós mesmos, sem proveito algum. É preferível partir do ponto em que paramos, empregar toda a sagacidade de nosso espí­rito em reparar e encontrar meios de reparar. O importante é não olhar para trás e sempre afastar do espírito a lembrança de nossos erros. Quando, num relance, colhemos um fruto deles que nos serve para algo, afastar as ideias tris­tes e substituí-las por outras agradáveis também é um grande estímulo à felicidade e, ao menos até certo ponto, está a nosso alcance. Sei que, numa paixão violenta e geradora de infortúnio, não depende só de nós banir do espírito as ideias que nos afligem. Nem sempre, contudo, vivenciamos situações violentas, nem todas as doenças são febres malignas, e as pequenas mazelas, as sensações desagradáveis, embora fracas, devem ser evitadas. A morte, por exemplo, é uma ideia que sempre nos aflige, seja porque vaticinamos a nossa, seja porque pensamos na dos entes queridos. Devemos, portanto, evitar cuidadosamente tudo o que possa nos evocar tal ideia. Oponho-me firmemente a Montaigne, que se regozijava de estar tão familiarizado com a morte a ponto de ter certeza de que podia vê-la de perto sem se assustar. Percebemos, pelo deleite com que narra essa vitória, que ela muito lhe custara, e nisso o sensato Montaigne cal­culara mal: pois seguramente é uma loucura envenenar, com tal ideia triste e humilhante, parte do pouco tempo que nos resta de vida, para suportar mais pacientemente um momento em que, a des­peito de nossa filosofia, as dores corporais nos deixam sempre mais amargos. Aliás, quem pode saber se o enfraquecimento de nosso espírito, causado pela doença ou pela idade, nos permitirá colher o fruto de nossas reflexões, e, como não raro acontece nesta vida, se não nos decepcionaremos? Quando a ideia da morte surgir, tenhamos sempre em mente este verso de Gresset:

La douleur est un siècle, et la mort est un moment.5

Desviemos o espírito de todas as ideias desagradáveis, pois elas são a fonte da qual jorram todos os males metafísicos, quase sempre os mais fáceis de evitar.

A sabedoria deve ter sempre as fichas na mão, pois, ao menos no meu dicionário, quem diz sábio diz feliz. Necessita­mos de paixões para sermos felizes, mas devemos colocá-las a serviço de nossa felicidade. E há aquelas cujo acesso à nossa alma convém barrar. Não me refiro aqui às paixões viciosas, como o ódio [a vingança, a raiva; mas ambição], por exemplo, que, se quisermos ser felizes, é uma paixão contra a qual deve­mos defender nossa alma. E não é porque ela não proporcione prazer, pois a meu ver tal paixão é capaz de fornecê-lo; tam­pouco porque a ambição deseja sempre, pois isso é segura­mente um grande bem, mas sim porque, de todas as paixões, é a que mais faz nossa felicidade depender dos outros; [ora, quanto menos nossa felicidade depender dos outros] mais fácil será para ser feliz. Nunca é demais protegermo-nos dela, que sempre causará dependência. Por tal critério de indepen­dência, o amor ao estudo é, de todas as paixões, a que mais contribui para nossa felicidade. No amor ao estudo, encontra-se embutida uma paixão à qual a alma elevada jamais é com­pletamente imune, a da glória; aliás, para meio mundo, não há outra forma de conquistá-la, e, justamente, é a esse meio mundo que a educação nega os recursos e poda o talento.

É consenso que o amor ao estudo é bem menos necessário à felicidade dos homens que à das mulheres. Os homens têm uma infinidade de recursos para ser felizes, os quais faltam inteiramente às mulheres. Eles dispõem de muitos outros meios de chegar à glória, e não resta dúvida de que a ambi­ção de colocar seus talentos a serviço de seu país e beneficiar seus concidadãos, seja mediante a habilidade na arte da guerra ou a aptidão ao governo ou aos negócios, está muito acima [daquela] que se pode nos pro­por para o estudo. Em contrapartida, como as mulheres são excluídas de toda espécie de glória em função de seu status, quando eventualmente nasce uma com a alma elevada, só lhe resta o estudo para consolá-la de todas as exclusões e dependências às quais se vê condenada por tal condição.

O amor à gloria  fonte de imenso prazer e das mais variadas iniciativas em prol da felicidade, da instrução e da perfeição da sociedade  é inteiramente fundado na ilusão, e não há nada mais fácil que fazer desaparecer o fantasma atrás do qual correm todas as almas elevadas. Porém, quanto prejuízo para elas e para as outras! Sei que existe certa realidade no amor à glória que pode ser gozada em vida; por outro lado, não existe herói, de qualquer tipo, que deseje dissociar-se inteiramente dos aplausos da posteridade, da qual se espera inclusive mais justiça do que dos contemporâneos. Embora nem sempre ali­mentemos o vago desejo de que falem de nós quando deixarmos de existir, ele subsiste no fundo de nosso coração. A filosofia pretende demonstrar sua frivolidade, mas o sentimento prevalece, e tal prazer não é em absoluto uma ilusão. Afinal, ele comprova o bem real de gozarmos de nossa reputação futura; se o presente fosse nosso único bem, nossos prazeres seriam muito mais limi­tados do que são. Somos felizes no presente em virtude não só de nossos pra­zeres atuais, como também de nossas esperanças e reminiscências. O presente se enriquece com o passado e com o futuro. Quem trabalharia para os filhos, pela grandeza da casa, se não gozasse do futuro? Não adianta, o amor-próprio é sempre a motivação mais ou menos oculta de nossas ações, é o vento que infla nossas velas, sem o qual o barco não avançaria.

Eu disse que o amor ao estudo é a paixão mais necessária à nossa felici­dade; é um recurso seguro contra os infortúnios, fonte inesgotável de prazeres, e Cícero tem toda a razão ao declarar: “Os prazeres dos sentidos e do cora­ção estão, sem dúvida alguma, acima dos prazeres do estudo; não é necessá­rio estudar para ser feliz; mas talvez o seja para sentir esse recurso e esse apoio dentro de si.” Podemos amar o estudo e passar anos a fio, quiçá a vida inteira, sem estudar; e feliz de quem a passa assim: pois é só por prazeres mais intensos que se sacrifica um prazer garantido, e ele se tornará suficientemente intenso para compensar a perda dos outros.

Um dos grandes segredos para a felicidade é moderar os desejos e amar aquilo que se tem. A natureza, cujo fim é sempre nossa felicidade (e entendo por natureza tudo o que é instintivo e não exige raciocínio), a natureza, dizia eu, só nos concede desejos em conformidade à nossa condição. Só desejamos naturalmente de modo gradual: um capitão de infantaria deseja ser coronel e, por mais talentoso que se julgue, não se sente nem um pouco infeliz por não comandar os exércitos. Cabe a nosso espírito e a nossas reflexões fortale­cer essa sábia sobriedade da natureza; só somos felizes por desejos satisfeitos; logo, só devemos nos permitir desejar coisas que podemos obter sem muita inquietude e trabalho, e esse é um ponto que pode nos ajudar a fazer muito por nossa felicidade. Amar o que temos, saber desfrutá-lo, usufruir das vantagens de nossa condição, não espichar o olho para os que nos parecem mais felizes, empenhar-nos em aprimorar o patrimônio e dele tirar o melhor partido possí­vel, eis o que devemos designar como felicidade. Julgo formular uma boa defi­nição ao declarar que o mais feliz dos homens é aquele que deseja o mínimo de mudança em sua condição. Para gozar dessa felicidade, é fundamental curar ou prevenir uma doença de outra espécie, que se opõe inteiramente a ela e é mais que comum: a ansiedade. Essa disposição de espírito opõe-se a todo deleite e, por conseguinte, a toda espécie de felicidade.

A boa filosofia, ou seja, a firme convicção de que não temos outra coisa a fazer neste mundo senão ser felizes, é um remédio seguro contra essa doença, à qual as mentes sãs, aquelas capazes de princípios e consequências, são quase sempre imunes.

Existe uma paixão bastante inconsequente do ponto de vista dos filósofos e da razão, cuja motivação, por mais disfarçada que seja, é até mesmo humi­lhante — o que deveria ser o suficiente para que fosse curada, mas que, em contrapartida, pode trazer a felicidade: a paixão pelo jogo. Cultivá-la é uma delícia, com a condição de a moderarmos e reservarmos para a fase de nossa vida em que tal recurso se faça necessário, e essa fase é a velhice. Não resta dúvida de que o amor ao jogo tem sua origem no amor ao dinheiro; não existe indivíduo para quem o jogo alto (e chamo de jogo alto o que pode fazer uma diferença em nossa fortuna) não constitua objeto de interesse.

Nossa alma quer ser sacudida pela esperança ou pelo temor; ela só se con­tenta com aquilo que a faz sentir que existe. Ora, o jogo nos coloca perpetua­mente às voltas com essas duas paixões, mantendo, por conseguinte, nossa alma numa emoção que é um dos grandes princípios da felicidade que nos habitam. O prazer que o jogo me proporcionou serviu muitas vezes para me consolar por não ser rica. Julgo-me com o espírito bastante sólido para que uma fortuna, irrisória para outro qualquer, seja suficiente para me fazer feliz, e, nesse caso, o jogo seria insípido para mim. Pelo menos era o que eu temia, e tal ideia me persuadia de que eu devia o prazer pelo jogo à minha pouca fortuna, e me consolava por isso.

É indubitável que as necessidades físicas estão na origem dos prazeres dos sentidos, e estou convicta de que há mais prazer em uma fortuna mediana do que na plena abundância. Uma caixinha, uma porcelana, um móvel novo são um verdadeiro deleite para mim; contudo, se eu tivesse 30 caixas, talvez fosse pouco sensível à 31ª. Nossos impulsos perdem vigor com a saciedade, e devemos dar graças a Deus por nos haver concedido as privações necessárias para conservá-los. É o que faz um rei se entediar com tanta frequência, impos­sibilitado de ser feliz, a menos que tenha recebido do céu uma alma grande o suficiente para ser suscetível aos prazeres de sua posição, isto é, a de fazer feliz um grande número de homens. Mas então essa condição se torna a primeira de todas sob os auspícios não só do poder, como da felicidade.

Quanto mais depender de nós, repito, mais garantida a feli­cidade; apesar disso, a paixão capaz de nos proporcionar os maiores prazeres e nos fazer mais felizes coloca nossa felici­dade inteiramente na dependência dos outros: está claro que minha intenção é falar do amor.

Essa paixão talvez seja a única que nos dá vontade de viver e nos impele a agradecer ao autor da natureza, seja ele quem for, por nos ter concedido a existência. Milorde Rochester6 tem toda razão ao dizer que os deuses verteram essa gota celes­tial no cálice da vida para nos dar coragem para suportá-la:

Il fault aimer, c’est ce qui nous soutient:

Car sans l’amour, il est triste d’être homme.7

Se essa afeição mútua, que é um sexto sentido, e o mais refinado, delicado e valioso de todos, julga por bem reunir duas almas igualmente sensíveis à felicidade e ao prazer, tudo está dito, nada resta a fazer para ser feliz, tudo o mais é indife­rente; nesse caso, só a saúde se faz necessária. Devemos apli­car todas as faculdades da alma para desfrutar tal felicidade, deixar a vida quando a [perdermos] e estar bem certos de que os anos de Nestor8 não são nada comparados a 15 minutos de tais delícias. É justo que essa felicidade seja rara, pois, se fosse comum, seria dez vezes preferível ser homem a deus, ao menos tal como podemos representá-lo. O melhor a fazer é nos persuadir de que essa felicidade não é impossível. Não sei, contudo, se o amor um dia chegou a reunir duas pessoas feitas a tal ponto uma para a outra que jamais conheceram a saciedade do gozo, ou a frieza provocada pela segurança ou a indolência e a mesmice resultantes da rotina de um convívio cuja ilusão nunca se desfez (pois onde ela impera mais que no amor?), e cujo ardor, por fim, fosse igual no gozo e na privação e capaz de suportar igualmente infortúnios e prazeres.

Um coração capaz de tal amor, alma amorosa e inflexível, deve esgotar o poder da divindade; nasce um a cada século: produzir dois estaria acima de suas forças ou, se isso acon­tecesse e os dois se encontrassem, tal divindade teria ciúme de seus prazeres. O amor, contudo, pode proporcionar felicidade a um custo menor: uma alma amorosa e sensível é feliz tão-somente pelo prazer que sente em amar. Com isso eu não quero dizer que seja possível ser plenamente feliz amando e não sendo amado; em contrapartida, afirmo que, mesmo que nossas ideias de felicidade não sejam totalmente correspon­didas pelo amor do objeto que amamos, o prazer que sentimos em nos entre­gar por inteiro à nossa ternura pode bastar para que sejamos felizes. E mais: se essa alma ainda gozar da felicidade de ser suscetível à ilusão, impossível não se julgar mais amada do que é efetivamente; ela ama tanto que ama por dois, o calor de seu coração compensa o que porventura falte para sua felicidade. Um caráter sensível, vivo e exaltado sem dúvida pagará o tributo de alguns inconvenientes associados a tais qualidades, e não sei se devo dizer boas ou ruins; mas creio que qualquer um que compusesse sua própria individua­lidade as incluiria nela. Uma primeira paixão transtorna de tal forma uma alma dessa têmpera que ela se torna inacessível a qualquer reflexão ou ideia moderada; não há saída, ela pode preparar-se para grandes mágoas. Con­tudo, o maior inconveniente ligado a essa sensibilidade exaltada é que não só é impossível que alguém que ame tão exacerbadamente seja amado, como não existe nenhum homem cujo afeto não se dilua ao ter ciência de tal paixão. Isso decerto deve parecer bem estranho a quem ainda não conhece o bastante o coração humano, porém, por mais que meditemos sobre o que nos oferece a experiência, veremos que, para conservar de modo duradouro o coração do amante, convém sempre que a esperança e o medo atuem sobre ele. Ora, uma paixão como a que acabo de descrever produz uma languidez que tolhe qual­quer iniciativa; o amor fustiga de todos os lados; começam por adorar você, isso é impossível de outra forma; mas logo a certeza de ser amado e o tédio de estar sempre prevenido, bem como o infortúnio de não ter nada a temer, arrefecem os impulsos. Eis como é feito o coração humano, e não pensem que falo por ressentimento: recebi de Deus, é verdade, uma dessas almas amorosas e imu­táveis que não sabem disfarçar nem moderar suas paixões, que não conhecem nem o abatimento nem o dissabor, e cuja tenacidade sabe resistir a tudo, até mesmo à certeza de não ser mais amada. Fui feliz durante dez anos por amor àquele que subjugara minha alma, e esses dez anos passei-os diante dele sem nenhum momento de dissabor ou fastio. Quando a idade e as doenças, e talvez um pouco de gozo fácil, diminuíram seu afeto, isso me passou despercebido; eu amava por dois, passei a vida inteira com ele, e meu coração, isento de sus­peita, gozava do prazer de amar e da ilusão de julgar-se amado. É verdade que perdi essa condição tão feliz, o que não se deu sem me custar muitas lágrimas. Só um choque terrível seria capaz de romper aquelas correntes: a ferida do meu coração demorou a cicatrizar; tive motivos para chorar, e a tudo perdoei. Fui suficientemente justa para perceber que talvez meu coração fosse o único no mundo a deter aquela imutabilidade que esfacela o poder temporal; que, se a idade e as doenças não houvessem extinguido por completo os desejos, eles talvez ainda existissem para mim, e meu amor me teria trazido tudo de volta; por fim, que seu coração, incapaz de amor, dispensava-me a amizade mais carinhosa e teria dado a vida por mim. A certeza da impossibilidade de que seu afeto e sua paixão retornassem, o que sei muito bem não ser algo natural, levou insensivelmente meu coração ao sentimento sereno da amizade; e esse sentimento, aliado à paixão do estudo, fazia-me bastante feliz.

Mas um coração tão amoroso pode sentir-se pleno com um sentimento tão sereno e fraco como o da amizade? Não sei se devemos esperar, ou mesmo desejar, manter tal sensibilidade sempre na espécie de apatia à qual é difícil conduzi-la. Não somos felizes senão mediante sentimentos intensos e agra­dáveis; por que então proibir-nos os mais intensos e agradáveis de todos? Ora, o que sentimos, as reflexões que fomos obrigados a fazer para induzir nosso coração a essa apatia, o esforço mesmo que fizemos para reduzi-lo a tal, nos faz ter receio de deixar uma condição que não é infeliz para sofrer com os infortú­nios que a idade e a perda da beleza tornam inúteis.

Belas reflexões, você me dirá, e utilíssimas! Verá que elas lhe servirão, se um dia gostar de alguém que se apaixone por você; e creio que se engana quem as julga inúteis. As paixões, depois dos 30, não nos exaltam mais com a mesma impetuosidade. Penso que resistiríamos a seu arrebatamento se o quiséssemos tenazmente e estivéssemos de fato persuadidos de que causaria nossa infeli­cidade. Só cedemos por não estar plenamente convencidos da segurança de tais máximas e por ainda ter esperança de ser felizes, e há motivos para nos persuadir disso. Por que se proibir a esperança de ser feliz, e da maneira mais intensa? Contudo, se não é recomendável proibir essa esperança, tampouco é lícito enganar-se quanto aos meios para alcançar a felicidade; a experiência deve ao menos nos ensinar a contarmos conosco e colocarmos as paixões a ser­viço de nossa felicidade. Podemos nos controlar até certo ponto; não podemos tudo, sem dúvida, mas podemos muito. E declaro, sem medo de errar, que não existe paixão impossível de superar quando estamos convencidos de que ela só vai nos trazer infelicidade. O que nos desestabiliza em nossa primeira juven­tude é que somos incapazes de refletir, não temos nenhuma experiência e ima­ginamos que basta correr para alcançar o bem que perdemos. A experiência e o conhecimento do coração humano não obstante nos ensinam que, quanto mais corremos, mais ele nos escapa. É uma perspectiva enganosa, que desaparece quando julgamos alcançá-lo. O impulso é algo involuntário, que não se per­suade, que não ressuscita quase nunca. Qual é sua meta ao ceder ao impulso que sente por alguém? Não é ser feliz pelo prazer de amar e pelo prazer da felicidade em si? Portanto, assim como seria ridículo negar-se tal prazer pelo temor de um infortúnio vindouro que talvez você só viesse a sentir após ter sido feliz  então haveria compensação, e você deve pensar em curar-se, e não em arrepender-se , uma pessoa racional deveria ruborizar se não dispusesse da própria felicidade e a deixasse por inteiro nas mãos de outrem.

O grande segredo para que o amor não gere infortúnio é tentar não agir errado com seu amante, nunca dar mostras de açodamento quando ele se retrai e estar sempre um grau mais fria; isso não o trará de volta, mas nada o traria; não há nada a fazer senão esquecer alguém que deixou de amá-la. Se ele ainda a ama, nada é capaz de reacender seu amor e devolver-lhe o primeiro ardor, a não ser o medo de perdê-la e ser menos amado. Sei que esse segredo é difícil de ser posto em prática pelas almas amorosas e autênticas, mas é justamente por isso que elas devem empenhar-se ao máximo em exercitá-lo, já que ele lhes é muito mais necessário que a outras. Nada degrada tanto como os procedimentos que adotamos para reconquistar um coração frio ou inconstante: isso nos avilta tanto aos olhos daquele que procuramos conservar como aos dos homens que porventura pudessem pensar em nós; e, o que é muito pior, nos deixa infelizes e nos atormenta inutilmente. Adotemos, portanto, essa máxima com inaba­lável coragem e, nesse ponto, jamais cedamos ao nosso próprio coração; pro­curemos conhecer o caráter da pessoa a quem nos afeiçoamos, antes de ceder a seu ardor; ouçamos a razão, não essa razão que condena todo compromisso como antagônico à felicidade, e sim aquela que, admitindo a impossibilidade de sermos felizes sem amar, quer que só amemos para nossa felicidade e supere­mos um impulso que claramente só nos traria dissabores. Entretanto, quando esse impulso é mais forte, quando ele prevalece sobre a razão, como não raro acontece, não devemos nos gabar de uma constância que seria tão ridícula quanto despropositada. É efetivamente o caso de praticar o provérbio, “as lou­curas mais breves são sempre as melhores”, sobretudo os infortúnios mais bre­ves, pois há loucuras que propiciariam extrema felicidade se durassem a vida inteira. Não convém ruborizar por ter errado, e sim curar-se a todo custo, em especial evitando a presença de um objeto que não pode senão agitá-la e fazê-la perder o fruto de suas reflexões, pois, nos homens, a vaidade sobrevive ao amor; eles não querem perder nem sua conquista nem sua vitória e, mediante mil frivolidades, sabem reacender um fogo mal apagado e mantê-la num estado de incerteza tão ridículo como insuportável. É preciso determinação, é preciso romper sem volta; é preciso, diz o senhor de Richelieu, descosturar a amizade e rasgar o amor; no fim, cabe à razão nos fazer felizes. Na infância, nossos sentidos se encarregam sozinhos dessa tarefa; na mocidade, coração e espírito come­çam a contestar tal subordinação, que o coração determine tudo; no entanto, na idade madura, a razão deve ser levada em conta, cabendo-lhe, custe o que cus­tar, incutir-nos a necessidade de ser feliz. Cada idade tem os prazeres que lhe são próprios; os da velhice são os mais difíceis de usufruir; o jogo e o estudo, se ainda formos capazes disso, a gula, a consideração, eis as regalias da velhice. Tudo isso, sem dúvida, não passa de consolos. Felizmente, só depende de nós adiantar o término de nossas vidas, se ele se fizer esperar além da conta; porém, enquanto estivermos decididos a suportá-las, devemos acolher o prazer por todas as portas que o conduzem até a nossa alma; não temos outra opção.

Tentemos então agir corretamente, não ter preconceitos, cultivar paixões, colocá-las a serviço de nossa felicidade, substituir nossas paixões por afe­tos, preservar ciosamente nossas ilusões, ser virtuosos, jamais nos arrepen­der, afastar as ideias tristes e jamais permitir a nosso coração conservar um fiapo de afeto por alguém indiferente que deixou de nos amar. Afinal, por mais que desafiemos a velhice, um dia devemos nos despedir do amor, e esse dia deve ser aquele em que ele não nos faça mais felizes. Nunca deixemos de cultivar o gosto pelo estudo, que faz nossa felicidade depender apenas de nós mesmos. Preservemos a ambição e, acima de tudo, saibamos com clareza o que desejamos ser; escolhamos a estrada que queremos seguir na vida e procure­mos semeá-la com flores.

 

 

Émilie du Châtelet, a Madame du Châtelet (1706-1749), recebeu uma educação fora do comum para uma menina da época, aprendendo latim, grego, alemão, italiano e inglês, além de música, dança e teatro. Aos 19 anos, teve um casamento arranjado com o marquês de Châtelet, com quem teve três filhos e de quem viveu de modo independente. Por 15 anos, manteve uma relação com Voltaire, a principal influência para seus estudos aprofundados em física e matemática, que resul­taram em ensaios sobre suas experiências em laboratório e, ainda, na tradução comentada para o francês do Principia mathematica, de Newton.

Tradução de André Telles

O inglês Kellom Tomlinson (1690-1753) foi professor de dança e coreógrafo. O livro The Art of Dancing Explained by Reading and Figures (1735), origem destas da ilustração ao topo da página, é considerado um dos mais importantes documentos sobre a dança no século 18, devido à precisão com que combina figuras e textos na descrição dos movimentos.

 

  1. André Le Nôtre (1613-1700), projetista de jardins do rei Luís xiv, esteve com o papa Inocêncio xi em Roma, em 1679. [N. do r.]
  2. Renaud e Armide: protagonistas da “tragédia em música” Armide, em cinco atos, de Jean-Baptiste Lully (1632-1687). [N. do T.]
  3. Juvenal (séc. i-ii): poeta latino, autor das Sátiras, crítica virulenta aos costumes contemporâneos feita em 16 textos versificados. [N. do r.]
  4. Em tradução livre: “É fácil ofuscar os olhos dos mortais,/ mas impossível enganar o olho vigilante dos deuses”, versos da tragédia Semíramis, ato i, cena 3, de Voltaire. [N. do r.]
  5. “A dor é um século, a morte é um momento”. Jean-Baptiste Gresset (1709-1777), poeta e dramaturgo francês. O “verso” citado parece provir de uma carta de Gresset à irmã. [N. do r.]
  6. John Wilmot, segundo conde de Rochester (1647-1680): poeta, dramaturgo e libertino inglês. [N. do r.]
  7. “É preciso amar, é o que nos sustenta:/ Pois, sem amor, é triste ser homem.”
  8. Anos de Nestor [Nestore anni], isto é, a longevidade de Nestor, era uma expressão em voga desde o século 16. Nestor, rei de Pilos, herói mais velho do exército grego em Troia, em Homero (Odisseia), reinou sobre três gerações de homens. [N. do r.]

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