serrote 31

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A serrote 31 apresenta o texto integral de dois livros inéditos no Brasil. Em “O toldo vermelho de Bolonha”, o escritor e crítico inglês John Berger faz uma viagem sentimental pela história e a cultura da cidade italiana. Já em “O homem – com variações”, o jornalista americano Joseph Mitchell narra o nascimento da antropologia moderna nos EUA, nos anos 1930, e os embates de antropólogos com a ideologia nazista.

Além disso, a edição traz um ensaio de um dos maiores especialistas na obra de William Shakespeare, o americano Stephen Greenblatt, que mostra como o Bardo representou os tiranos de seu tempo. E uma conferência do filósofo camaronês Achille Mbembe sobre a utopia de um mundo sem fronteiras.

E ainda: ensaios de Heloisa M. Starling, Fred Coelho, Paulo Roberto Pires, Christy Wampole e Phillip Lopate, um ensaio visual de Rosana Paulino, e muito mais.

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Ler e escrever estão entre as atividades menos populares em tempos de obscurantismo. Quanto menos e precariamente nos informamos e nos expressamos, melhor para os que vendem autoritarismo como autoridade, truculência como firmeza, boçalidade como conservadorismo.

Por isso, lembra Heloisa Starling, livreiros americanos marcaram a posse de Donald Trump distribuindo a seus clientes obras clássicas que, na ficção e no ensaio, escrutinavam regimes totalitários. A lógica é simples: quando informados, enfrentamos com firmeza o inominável.

Leitor perspicaz e fino ensaísta, Stephen Greenblatt percorreu uma vez mais a obra de Shakespeare, que tão bem conhece, para identificar os momentos em que o Bardo enfrentava os tiranos de seu tempo, sublinhando assim esse legado que nos ajuda a reconhecer os que hoje tentam nos submeter.

Antes de virar o Joseph Mitchell da New Yorker, o autor de O segredo de Joe Gould procurou Franz Boas e seus discípulos para conversar sobre uma profissão então pouco popular, a antropologia. E de seus entrevistados, todos eles preocupados com a diversidade das culturas, sacou no decisivo 1937 a manchete que fala por si só: “Os antropólogos riem quando Hitler fala de sua ‘Alemanha pura’”.

No que chama “era do desamparo neoliberal”, o camaronês Achille Mbembe também é um incansável crítico de consensos. E lembra que, entre a utopia de um mundo sem fronteiras e a realidade hipervigiada, o que se naturaliza é a exclusão de grupos estigmatizados e marcados racialmente.

Porque escrever é sempre resistir: ao clichê, ameaça permanente, e às montantes de estupidez, que vêm alcançando marcas espantosas. (Paulo Roberto Pires)

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POLÍTICA
Heloisa M. Starling / Caco Neves
Se o impensável acontecer, mantenha a calma
A mobilização em torno de espaços públicos e temas coletivos é antídoto eficaz para o germe totalitarista que hoje se manifesta em democracias como as dos EUA e do Brasil

TEATRO
Stephen Greenblatt / Vasily A. Vlasov
O tirano segundo Shakespeare
Sempre de forma oblíqua, o Bardo traçou em sua obra um retrato complexo da relação entre os soberanos autoritários e a docilidade dos súditos que os sustentavam no poder

JORNALISMO
Joseph Mitchell
O homem – com variações
Em 1937, o jornalista americano realizou uma série de entrevistas com o mítico Franz Boas e seus discípulos no Departamento de Antropologia da Universidade Columbia. Além de permitir uma visão dos anos formativos da disciplina, os textos, reunidos em livro apenas em 2017, mostram o embate entre intelectuais humanistas e a barbárie nazista

FILOSOFIA
Achille Mbembe / Serge Alain Nitegeka
A ideia de um mundo sem fronteiras
A utopia da livre circulação entre os países é hoje solapada pelo reforço das restrições de
movimento que reproduzem e intensificam a vulnerabilidade de grupos estigmatizados e mais marcados racialmente

COMPORTAMENTO
Christy Wampole / Daniel Bueno
Sobre o constrangimento
A falta de jeito com o corpo, as palavras e os outros assombra uma classe média que não suporta situações imprevistas nos roteiros da vida social, do tombo na rua ao silêncio numa conversa

ENSAIO VISUAL
Rosana Paulino
História natural de um suposto paraíso tropical

ENSAIO PESSOAL
John Berger / Paul Davis
O toldo vermelho de Bolonha
Lançado em 2007 como livro, o texto é narrado por um homem que vaga pela cidade italiana admirando a rotina e os traços culturais, artísticos e arquitetônicos, enquanto relembra a relação com seu tio, personagem singular por quem tinha grande fascínio

LITERATURA
Phillip Lopate / Marcelo Amorim
O narrador solteirão
Solitários e livres, melancólicos e irônicos, autores como Cesare Pavese, Charles Lamb, Walter Benjamin e William Hazlitt escrevem de um ponto de vista singular, deslocados da família e da sociedade

ENSAIO
Paulo Roberto Pires / Alberto Martins
Três confrontos
Contos de Kafka, Guimarães Rosa e Rodolfo Walsh recriam em cenas minimalistas o que a história dá como grande dramaturgia: o enfrentamento entre indivíduo e poder

SOCIEDADE
Fred Coelho / Bruno Moreschi
O Brasil como frustração
Do abismo entre o país desejado e o vivido, nasce um esboço incompleto que é documento eloquente de uma derrota histórica e existencial

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