serrote 39

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A nova edição da revista do IMS apresenta os 3 vencedores do Concurso de Ensaísmo. Além disso, Sidney Chalhoub investiga a história do movimento antivacina, Aparecida Vilaça reconstitui a trajetória de um indígena morto pela Covid, Acauam Oliveira questiona um clichê do debate racial, e muito mais.

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CARTA DO EDITOR

A concepção da arte e da política como instâncias de transformação, do mundo e de seus fundamentos, une os vencedores da quarta edição do Concurso de Ensaísmo serrote. 

Poeta nascido em Feira de Santana, Rodrigo Lobo Damasceno mostra como esculturas em couro, metal e madeira de Juraci Dórea, instaladas em sua região, interrogam um modelo perverso de desenvolvimento. Vinícius da Silva chama de “barricada” um complexo de gestos e reflexões que fundamentam ações políticas mobilizadoras de identidades não codificadas. Morto há 25 anos, João Antônio é o guia de Gabriel Campos numa deambulação por São Paulo que retraça o vínculo entre o autor de Malagueta, Perus e Bacanaço e a literatura marginal. 

O Brasil de hoje e seus sobressaltos são interpelados ainda por Aparecida Vilaça, Sidney Chalhoub e Rodrigo Toniol. Para a antropóloga, a vida de Karapiru, indígena que sucumbiu à covid depois de sobreviver a massacres e perseguições, reflete o destino dos povos originários.  Autor de Cidade febril, Chalhoub esquadrinha a resistência à vacina em momentos graves de combate a pandemias através da história. Especialista em religião, Toniol analisa a fabricação, pelo bolsonarismo, de uma identidade judaica distorcida e conveniente a seu projeto político. 

Sendo uma das funções do ensaísmo fazer perguntas inconvenientes, a provocação de Acauam Oliveira ecoa por toda a revista e, é claro, além dela: “Por que os negros daqui não se revoltam como os de lá?”. (Paulo Roberto Pires)


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SUMÁRIO

CONCURSO SERROTE
Rodrigo Lobo Damasceno / Juraci Dórea
Boi morto, boi morto, boi morto
Expostas no sertão baiano, as obras em couro de Juraci Dórea lembram que a modernização, sobretudo em sua versão nacionalista e burguesa brasileira, está longe de ser um bem em si

Vinícius da Silva / Flora Rebollo
Barricadas para o fim do mundo
Sete estratégias para uma prática do futuro e uma política do porvir

Gabriel Campos / Fabrizio Lenci
Saudades de João Antônio
Perifas, periféricos e peripatéticos

INDÍGENAS
Aparecida Vilaça / Gê Viana
A morte e a morte de Karapiru
O indígena Awá-Guajá perdeu a família num massacre, atravessou 700 quilômetros em fuga solitária e sobreviveu ao Estado brasileiro. Sucumbiu à covid-19, numa história que reflete o destino dos povos originários do país

SOCIEDADE
Sidney Chalhoub
Vacina: história, ciência e negacionismo
Da varíola à covid-19, a resistência à imunização, resultante de complexos fatores políticos e sociais, é obstáculo frequente no combate a epidemias

POLÍTICA
Rodrigo Toniol / Kobi Assaf
O judeu imaginário do bolsonarismo
Na peculiar gramática da extrema direita brasileira, judaísmo associado a branquitude e relações diplomáticas com Israel convivem com aproximação a neonazistas e igrejas neopentecostais

ENSAIO VISUAL
Sidney Amaral
Autorretratos

RACISMO
Acauam Oliveira / Moisés Patrício
Por que os negros daqui não se revoltam como os de lá?
A pergunta, que parece realista e moralmente indignada, trai o caráter perverso das relações sociais num país racista como Brasil

ENSAIO
Namwali Serpell / Tschabalala Self
Buraco negro
Dos tratados racistas ao TikTok, no evolucionismo ou na ficção, a vagina da mulher negra é nosso centro ausente: está em todo lugar e em lugar nenhum na internet

MÚSICA
Guilherme Wisnik / Valeska Soares
O lugar das musas
Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso reinterpretam em suas poéticas a figura mitológica da inspiração como parceira e cúmplice, amante e mãe

IDENTIDADES
Helen Hester / ORLAN
Xenofeminismo
Tecnologia e ativismo se encontram numa militância que não quer simplesmente abolir o gênero, mas torná-lo múltiplo e dissociado das manifestações de poder

ALFABETO SERROTE
Ryan Mitchell
L de lavagem cerebral

PAÍS DO FUTURO
Alex Hochuli / Marina Camargo
A brasilianização do mundo
Na vanguarda das crises do capitalismo, o Brasil manifestou mais cedo disfunções como desigualdade, declínio da classe média, privatização da riqueza e dos espaços sociais

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